Para ocupar o mais alto cargo da magistratura distrital, em substituição do conselheiro Read Cabral, foi nomeado, em 4 de Janeiro de 1894, o faialense José de Almeida Ávila, oficial da Armada e que, à época, era capitão do porto da Horta. Tratou-se, no dizer da imprensa local, de uma nomeação que “agradou a todos” já que “ninguém ignora(va) a brilhante figura que ele fez como governador dos distritos de Tete, Quelimane e Lourenço Marques, pelo que foi agraciado com a Torre e Espada, prémio de valor lealdade e mérito”. Após “alguns anos de lutas mesquinhas e inglórias, que dividiram a família faialense”, havia fundadas esperanças que a acção do novo governador se caracterizaria por “um período de paz e ordem, em que a lei, que entre nós tem andado de rastos” , seria respeitada.
Naturalmente menos conhecido do que seu tio, o Duque de Ávila e Bolama ou do que seu irmão, o Marquês de Ávila, o capitão- de- mar- e- guerra José de Almeida Ávila foi, por mérito próprio, um faialense distinto.
Era o segundo filho de Manuel José de Ávila Júnior e de Maria Leonor Ávila e nasceu na freguesia das Angústias a 29 de Outubro de 1844, sendo baptizado na igreja paroquial em 25 de Novembro do mesmo ano. Além do irmão mais velho, António José de Ávila Júnior, nascido a 7 de Novembro de 1842- que viria a ser General de Brigada, Deputado, Par do Reino, Conde e Marquês – José de Almeida Ávila teve mais os seguintes irmãos: Luísa de Almeida Ávila, nascida em 19 Dezembro de 1945, Júlia de Almeida Ávila, em 6 de Julho de 1849, Maria de Almeida Ávila, em 20 de Maio de 1851, Eugénio de Almeida Ávila, em 24 de Outubro de 1855 e que atingiu o posto de Capitão Tenente da Administração Naval, Luís de Almeida Ávila, em 25 de Março de 1857 que foi tesoureiro da Alfândega da Horta, e Leonor de Almeida Ávila em 10 de Abril de 1859.
Matriculou-se pela primeira vez no Liceu da Horta em 1856 e cedo “recebeu a carta de sota-piloto sem limite de tempo com base na experiência” que já revelava. Foi certamente esse currículo e os seus conhecimentos de inglês e francês que lhe permitiram ser admitido, em 26.12.1863 e a título excepcional pois já ultrapassara a idade limite, na Escola Naval de Lisboa “como aspirante na Companhia de Guardas da Marinha”. Decorridos dois anos partiu para Inglaterra, tendo realizado estudos teórico-práticos na Royal Navy, adquirindo profundos conhecimentos em pilotagem de barcos a vapor, artilharia, astronomia náutica, hidrografia e regulação de agulhas. Regressou a Portugal e, após fazer exame prático “à vela e a vapor como aspirante na corveta Duque de Palmela”, foi promovido a 2.º tenente em 27.10.1870, sendo colocado em Macau e Timor em 1872, passando em 1874 para a estação naval de Moçambique. No período em que esteve no Oriente prestou serviço na canhoneira Camões, na escuna D. Carlos, na canhoneira Tejo e na corveta Duque de Bragança. Quando, em Dezembro de 1872, integrava a guarnição deste navio praticou um feito de excepcional bravura, lançando-se às águas do rio Cantão numa noite de forte temporal para salvar de morrer afogado o 2.º tenente Manuel Luís Mendes Leite. Este acto de grande heroísmo valeu-lhe ser condecorado com o grau de Cavaleiro da Torre e Espada. Depois de servir nos mares do Extremo Oriente, esteve em Moçambique, onde foi, de 1875 a 1877, comandante do vapor Quelimane.
Regressado a Portugal, ocuparia o cargo de Capitão do Porto da Horta em Maio de 1877, aqui se mantendo até 14 de Outubro de 1879, dia em que foi deferido o pedido de exoneração que fundamentara “em circunstâncias muito especiais e alheias à sua vontade”. Apesar de não especificadas no seu registo biográfico, essas circunstâncias eram, sem dúvida, extremamente dolorosas. Efectivamente, não havia um mês que ficara viúvo, pois a sua jovem mulher Maria Moura Lane de Almeida Ávila com quem casara na igreja das Angústias em 22 de Janeiro, não sobrevivera a pertinaz doença que a vitimou em 17 de Setembro desse mesmo ano. Um semanário local ao registar essa dolorosa ocorrência escreve que “D.ª Maria Lane Ávila, consorte do exmo. sr. José d’Ávila, capitão do porto desta cidade, acabou a sua existência na flor da idade”, pois “no dia 14 de Agosto havia feito 24 anos” e a “sua falta é enorme para a sua extremosa família; e todos aqueles que a conheciam de perto, e a puderam apreciar devidamente, choram a perda daquele espírito verdadeiramente superior”.
Ainda no final desse ano regressaria a Moçambique, sendo nomeado Governador do Distrito de Tete (16.12.1879) e de Quelimane (1880-1883). Em Julho deste ano realizou exames médicos no Hospital Militar e Civil de Moçambique, sendo-lhe diagnosticada uma “anemia profunda” sendo aconselhado o seu regresso à Metrópole “na primeira oportunidade a fim de ser presente à Junta de Saúde Naval”. Este parecer, contudo, não foi seguido e, em vez do retorno a Portugal, acabou nomeado, em Dezembro desse ano de 1883, 2.º comandante da canhoneira Tâmega, estacionada em Macau. Foi aqui que, em 8 de Agosto de 1885, realizou segundo casamento, agora com Guilhermina Homem de Carvalho falecida de parto em 11 de Junho de 1886.
Um ano após a morte da esposa pediu exoneração do cargo e voltou a Lisboa, sendo colocado, nos finais de 1887, na Direcção do Arsenal da Marinha e nomeado 2.º Conselheiro da Escola de Alunos Marinheiros de Lisboa, como capitão-tenente supranumerário. Em Junho de 1888 recebeu a nomeação de Capitão do Porto de Ponta Delgada, mas só assumiria o cargo em 1890 depois de mais uma comissão em Moçambique, desta vez como Governador de Lourenço Marques. Nos primeiros quatro anos da década de noventa, sendo já Capitão-de-fragata, exerceu o cargo de Capitão do Porto da capital faialense, após o que foi nomeado Governador Civil da Horta, lugar que ocupou em 1894 e 1895. Regressou à Marinha, ocupando vários cargos, designadamente o de comandante da corveta Duque da Terceira (1897) e de Chefe do Departamento Marítimo do Oeste, em Ponta Delgada, (de 24.11.1898 a 30.10.1902), atingindo o posto de Capitão-de-mar-e-guerra.
Além de competente e arrojado oficial da Marinha e do desempenho de cargos superiores na administração pública – várias vezes governador de distritos moçambicanos e do distrito da Horta – José de Almeida Ávila assumiu papel de destaque na abordagem da temática da farolização do arquipélago dos Açores. Incontestável autoridade no assunto, publicou, em 1891, “Uma opinião sobre a iluminação do arquipélago dos Açores” que, “ao chamar mais uma vez a atenção dos poderes públicos para as condições desgraçadas do grupo dos Açores relativamente à iluminação das suas costas” recorda que “uma inspecção ao mapa geral do oceano Atlântico norte, mostra, claramente, mesmo às pessoas alheias aos assuntos inerentes à navegação, que, hoje, a maioria do comércio do mundo se faz por meio de barcos a vapor, cabe aos Açores, pela sua posição geográfica, a cerca de dois terços da travessia deste oceano, uma parte muitíssimo importante no abastecimento de combustível e víveres para estes barcos e para toda a navegação à vela, pois são o único ponto central do oceano Atlântico onde facilmente os navios podem refrescar e proceder às reparações de que porventura careçam”. De modo “a atenuar o odioso que recai no país, por conservar um arquipélago desta extensão e importância inteiramente às escuras e tornado em escolho perigosíssimo para o desgraçado navegador, a quem o destino ou as tormentas, obrigam a atravessá-lo”, José de Almeida Ávila apresentava “um plano meramente prático e económico para a iluminação dos Açores” , indicando os faróis e os farolins a colocar sem perda de tempo, apontando os locais das várias ilhas onde seriam instalados, bem como as suas características técnicas e de luminosidade. O seu projecto, que recolheu sugestões de outros especialistas no assunto – em especial de Domingos Tasso de Figueiredo e de Augusto Eduardo Neuparth - constituiu valioso e determinante contributo para que o Plano Geral da Comissão de Faróis de 1881 fosse devidamente incrementado. E, caso curioso, era José de Almeida de Ávila governador do distrito da Horta quando, em Abril de 1894, o Ministro das Obras Públicas autorizou a construção dos faróis dos Capelinhos, no Faial, e o da Lajes das Flores, isto é, três anos depois de haver divulgado o seu trabalho sobre a iluminação das costas açorianas, assim protegendo a navegação, minimizando os naufrágios e poupando vidas e haveres.
Na sua acção como chefe do distrito da Horta, além do começo das obras de iluminação das costas do Faial e das Flores, da obtenção de verbas importantes para melhoramentos nas quatro ilhas, da criação de algumas escolas e da elaboração de vários projectos de estradas e de abastecimento de água potável à cidade da Horta, “o conselheiro Ávila lutou com mil contratempos, experimentou muitas desilusões e viu muitas das suas mais caras esperanças perfeitamente perdidas”. Tantos foram “os dissabores produzidos pelo espinhoso cargo” que “por mais de uma vez o levaram a manifestar desejos de ver-se dele exonerado” o que não terá pedido mais cedo apenas “por desejar fazer a vontade ao sr. Conde Ávila” , seu irmão, que, quando conseguiu um substituto competente e de confiança, levou a ministro do Reino a libertá-lo das “mil cabeças da hidra política” da nossa terra. Exonerado, a seu pedido, em 13 de Julho de 1895, regressou a Lisboa no dia 29 desse mês, merecendo dos dois diários locais – O Açoriano e O Telégrafo – não só os mais rasgados elogios, como também o desagravo dos desgostos de que teria sido vítima.
Tinha 58 anos de idade quando, no dia 30 de Outubro de 1902, faleceu em Lisboa, vitimado “por um epitelioma na garganta que há muito o atormentava, sendo nos últimos tempos dilacerante o seu sofrer”. Era “um dos faialenses que honrava a terra que lhe serviu de berço e de que os faialenses, e até mesmo os açorianos em geral, podiam pronunciar o nome com orgulho, porque era oficial distinto entre os distintos, cavalheiro altruísta e modelo dos bons chefes de família”. Deixou viúva Sofia de Vasconcelos de Ávila e era pai de Manuel Carvalho de Almeida de Ávila, sendo o seu funeral realizado no dia 1 de Novembro para o cemitério dos Prazeres, ficando “depositado o féretro no jazigo da família do Duque de Ávila e Bolama, tio do finado”.